segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Pessoas Trasnparentes Fazem a Diferença


Há muitos anos um poderoso e inteligente príncipe queria encontrar a mulher da sua vida. Seu pai estava doente e ele estava para se tornar rei. Porém, não queria errar na escolha, afinal de contas a jovem com quem se casaria se tornaria a rainha. Sonhava que quem reinasse com ele fosse gentil, dócil, amável e principalmente transparente.

O maior medo do futuro rei era de que a mulher com quem se casasse valorizasse mais seu reino do que ele mesmo, mais os privilégios da corte e seus tesouros do que o seu amor. Os ministros do reino consideravam a preocupação do príncipe imatura. Alguns o achavam frágil e pouco inteligente, indigno da coroa.

Consultou os sábios para saber como não errar nessa decisão tão importante. Os sábios disseram que ele deveria casar-se com uma jovem riquíssima do próprio reino ou, melhor ainda, deveria desposar a filha de um poderoso rei de outra nação. Assim, alargaria suas fronteiras.

Escolher a futura rainha era importante para manter a unidade do reino. Muitos achavam que se o príncipe não mostrasse inteligência para encontrar sua esposa, não teria inteligência para governar seu reino.

Desanimado com os conselhos que lhe deram, o príncipe saiu pelos campos a pensar. Depois de horas de meditação, caiu-lhe algo na cabeça. Levou as mãos para ver
o que era e ficou fascinado, era uma semente amarela e pequena. De repente, veio-lhe a euforia, pois encontrara sua resposta. Parecia embriagado de alegria.
Resolveu promover uma festa para que as moças interessadas em casar-se com ele pudessem apresentar-se. Foram convidadas jovens de vários outros reinos, bem como as do seu território, especialmente as mais ricas.

Trabalhava no castelo, como serva, uma senhora que tinha uma linda e singela filha, chamada Priscila. Quando comunicou a Priscila que o príncipe iria casar-se e que ele daria uma grande festa para escolher a noiva, ela disse que se apresentaria como candidata. Priscila o admirava sem o conhecer pessoalmente, pois sua mãe sempre contava sobre a bondade, simplicidade e inteligência do jovem herdeiro.

Uma mulher rica do reino, cuja filha participaria do concurso, ficou sabendo da intenção de Priscila. Chamou-lhe a mãe e, com arrogância, disse-lhe:
— Sua filha está delirando, sonhando com o impossível! A filha de uma serva jamais poderá ser uma rainha. É contra os princípios.
Profundamente entristecida, mas achando que essa mulher estava correta, a mãe de Priscila comentou as frases cortantes que ouvira. A jovem, abalada, rebateu:
— Mamãe, nós somos pobres, mas somos seres humanos! O dinheiro compra carruagens, mas não compra a felicidade, compra roupas tecidas com fios de ouro, mas não compra o valor de uma pessoa — falou a jovem com dignidade.
Apesar de ser pobre, Priscila queria ser tratada com dignidade. Sabia que não tinha chance nenhuma de ser a escolhida, mas queria aproveitar a oportunidade para ficar perto do príncipe. Amava um desafio. Ela possuía uma beleza interior que contagiava as pessoas. Muitas jovens ricas gostavam de ficar perto dela.
— Priscila tinha três jóias que valiam mais que diamantes: simplicidade, generosidade e transparência.


Algumas jovens filhas de lordes eram boas alunas, conseguiam notas altas nas provas, mas simulavam seus comportamentos. Ninguém sabia o que elas realmente pensavam ou sentiam. Gostavam de se exaltar e contar vantagens, em busca das migalhas dos aplausos. Algumas mentiam até para si mesmas.


Entre essas jovens estavam Helena e Barbie. Elas conheciam Priscila e tinham inveja dela, não admitiam que a filha de um camponês com uma empregada do palácio fosse tão sociável e cativante. Duas semanas antes do concurso, elas a encontraram e a estimularam a participar dele. Pareciam estar sendo generosas.


Na realidade, estavam simulando sua verdadeira intenção. Queriam que Priscila fosse zombada publicamente, pois achavam que somente alguém perturbada poderia ter a coragem de concorrer ao lado delas e de outras belas moças, com os mais belos vestidos e com as mais belas jóias do reino.

O grande dia chegou. Centenas de jovens finamente trajadas estavam no saguão do grande palácio. Ao ver Priscila e observar seu vestido de cima a baixo, algumas jovens não contiveram seu sorriso de deboche. Aparentemente seu vestido era o mais simples e o mais feio. Helena e Barbie se aproximaram uma da outra e disseram:
— Coitada! Descobriram a boba da corte.
Priscila ouviu que estavam zombando dela e entendeu afinal qual era a verdadeira intenção delas.

De repente, ao som de trombetas, o príncipe apareceu com seus ministros, generais e sábios do reino. Todas as jovens suspiraram. Ninguém sabia o que as aguardava. Nem os que rodeavam o príncipe sabiam como se daria o processo de escolha. Um momento solene de silêncio se fez. Subitamente o príncipe abriu a boca e aos brados lançou um desafio:
— Cada uma de vocês receberá uma semente para ser cultivada. Daqui a três meses darei um grande baile. Aquela que me trouxer a mais linda flor será a escolhida para ser a rainha — disse o príncipe com singeleza e espontaneidade.
Todas as moças acharam estranho o desafio do príncipe. Era muito simples a tarefa. Animadas, a maioria saiu do palácio convicta de que receberia a coroa. Os sábios e os ministros do reino menearam a cabeça achando que realmente o jovem era despreparado para governar. Jamais viram um príncipe tão ingênuo e destituído de inteligência. Um cargo tão grande merecia um desafio à altura, pensaram.

Várias pretendentes, julgando-se espertas, entenderam que o príncipe pretendia na verdade era que o estilo dos cabelos, das vestes e dos movimentos do corpo fossem tão belos como uma flor.

Priscila pegou a sua semente, plantou-a num vaso e, apesar de pouco entender de jardinagem, cuidava da terra com muita paciência e ternura. Sonhava com a planta que nasceria e com a belíssima flor que dela surgiria. Às vezes, libertava sua imaginação e sentia até seu perfume.
Passou-se uma semana e a planta não nasceu. Priscila ficou preocupada. Regava mais ainda, deixava cair a cada hora algumas delicadas gotas de água. Duas semanas se passaram e o broto não surgiu. A moça esmerou-se ainda mais nos seus cuidados. Aconselhou-se com pessoas experientes.

Alguns jardineiros disseram que a semente não nasceu porque ela colocou muita água, outros, adubo em excesso, e ainda outros porque compactou demais a terra do vaso. Todos foram unânimes em dizer que, independente da causa, se a semente não eclodiu em quinze dias dificilmente nasceria. Desesperada, via seu sonho cada vez mais distante. Apesar da frustração, não conseguia dissipar seu amor pelo príncipe.
Um mês se passou e o vaso continuava sem vida. Enquanto derramava as gotas de água, as gotas de lágrimas também caíam no recipiente. Dois meses se passaram e seu coração estava partido. A flor não brotou e seu coração se entristeceu.

Três meses se passaram e o pequeno vaso continuava estéril, sem vida. Vendo-a abatida, as pessoas próximas aconselharam que ela jamais retornasse ao concurso. Todos sabiam que Priscila era gentil, mas, ao mesmo tempo, determinada e teimosa. Depois de muito meditar e de estar consciente de que fez de tudo ao seu alcance, disse, para espanto de todos, que iria ao baile e levaria seu vaso, mesmo sem planta.
— É loucura! — diziam os amigos.
— Será um vexame! — diziam os parentes.
Sua mãe fez um último esforço para ela não retornar ao palácio. Vendo a dor da mãe, Priscila derramou novamente algumas lágrimas que borraram a sua maquiagem e molharam seu vestido simples. Para consolar a mãe, disse-lhe:
— Poderei passar vergonha mais uma vez, mamãe, mas serei honesta comigo mesma. Não consegui cultivar a semente e vou assumir meu erro.
Quando chegou ao baile, perturbou-se muitíssimo. Viu todas as outras pretendentes segurando vasos com as mais lindas flores, uma mais linda do que a outra. Os vestidos combinavam com as cores das pétalas. Era algo sublime.
Ao ver Priscila, mais uma vez, várias pretendentes debocharam dela. Dessa vez o deboche foi mais aparente. Deram gargalhadas incontroladas, não apenas porque não possuía jóias e seu vestido era simples e fora de moda, mas porque seu vaso não tinha flor, não possuía vida. Humilhada, começou a entrar em pânico e pensou em desistir.
De repente, as cometas tocaram triunfalmente. Todas ficaram em profundo silêncio. Quando o príncipe chegou, elas suspiraram. Ele pediu para que elas formassem filas. Elas, eufóricas, enfileiraram-se. O príncipe se aproximou de cada uma delas. Olhava para seus olhos e para a formosura da flor. Em seguida, perguntava seus nomes.

Quando chegou diante de Priscila e viu o vaso sem flor e seu vestido com gotas de lágrimas, meneou a cabeça e nem sequer seu nome perguntou. As moças que estavam próximas colocaram seus lenços na boca para que não se ouvisse o som das suas risadas.
Os líderes do reino observavam atentamente os gestos do príncipe e se entreolhavam. Depois de três horas, e de analisar flor por flor, o príncipe sentou-se no seu trono. Em seguida, pediu que as moças fizessem uma grande roda no salão nobre do palácio. Disse que sua decisão tinha sido tomada e que a jovem que ele tirasse para dançar seria a escolhida.
Além das moças e dos líderes do reino, havia reis e nobres na lateral do salão torcendo por suas filhas. Chegou o grande momento.

A professora de filosofia, mais uma vez, dirigiu-se aos seus alunos e perguntou:
— Quem o príncipe escolheria? Que parâmetro usaria para encontrar sua rainha?
Os alunos ficaram perdidos. Não tinham respostas. Estavam ansiosos para saber qual era a decisão. Sofia continuou. O príncipe foi para o meio do salão. Passou seus olhos sobre a roda de mulheres e, para surpresa de todos, foi até a jovem que não tinha flor nenhuma no vaso, beijou suas mãos e, emocionado, disse-lhe:
— Qual seu nome?
Com os lábios trêmulos, ela lhe disse:
— Priscila.
— Minha rainha! Priscila, você aceita dançar comigo e ser minha esposa? — falou com suavidade.
Priscila caiu em prantos. Todos estavam perplexos. O burburinho foi geral. Ninguém entendeu sua atitude. Os ministros e sábios achavam que o príncipe estava delirando. Os generais pensaram que ele estava brincando.
Então, calmamente, explicou em voz alta:
— Para se tornar uma rainha, é preciso cultivar uma flor muito especial: a flor da transparência, da cumplicidade, da honestidade diante de si mesma. Sem tal característica não é possível amar, governar, liderar, ser fraterno e justo. Todas as sementes que entreguei a vocês eram estéreis e delas não poderia nascer uma flor. Portanto, a única pessoa que foi transparente, enfrentou sua vergonha, frustração, deboche e provou seu amor incondicional por mim foi a Priscila.
Em seguida, num momento de rara inspiração, ele completou:
— Seu vaso não precisa de flor, pois ela representa a flor que não nasceu.
Os sábios do reino ficaram boquiabertos, jamais viram tanta sabedoria. Os ministros, rígidos e interesseiros, ficaram assombrados com a inteligência de seu rei. Entenderam que estavam diante de um dos homens mais sublimes que já conheceram. Os demais presentes, inclusive a maioria das outras pretendentes caíram em aplauso. Aplaudiram a inteligência do rei e a sensibilidade e transparência da rainha.

Priscila foi generosa com quem a maltratou, foi delicada com quem a perseguiu. Foi digna da coroa que carregava em sua cabeça, porque já havia um tesouro em sua personalidade. Sabia que uma rainha não era mais importante do que um súdito, pois conhecia a dignidade de cada ser humano.
História extraída do livro: "Filhos Brilhantes, Alunos Fascinantes" de Augusto Cury


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